Ponto assente: falar de árbitros é uma das actividades mais reconfortantes para um português. Pelas minhas contas, é coisa para ocupar um honroso 4º lugar, logo atrás de “tirar um burrié”, “coçar os genitais”, e “tirar um burrié depois de ter coçado os genitais”. E é reconfortante porque basicamente inclui os dois temas que o português mais aprecia numa conversa: futebol e asneiredo. Não obrigatoriamente por esta ordem.
Confesso porém que, num estádio com milhares de pessoas, há sempre gente que abusa. Há sempre um engraçadinho que se estica bem para além dos comummente aceites "Palhaço", "Gatuno", "Boi Preto" e "Grandessíssimo Filho da P***", e tem o desplante de se referir ao juiz de partida como um enorme “panasca”. Ora dirá o leitor: “Grande coisa, apelidá-lo de homossexual”. E dirá o leitor com menos de 30 anos: “Mas o que raio é um panasca?”
Pois lá está, o problema é que o panasca não é um homossexual. O “panasca” é uma espécie de homossexual extinta no tempo dos meus pais. É o tipo de homossexual que comprava remédios na pharmácia e gostava de acenar ao muy nobre Rey. E quem se atrever a questionar esta tremendamente elaborada e verosímil teoria, atente na última medida anunciada pelo Governo: o primeiro-ministro quer, em 2009, autorizar o casamento entre homossexuais, E eu pergunto: alguém falou nos panascas? Alguém ouviu José Sócrates dizer: “em 2009 comprometemo-nos a promulgar a lei do casamento entre panascas”? Não me parece.
E agora vamos lá ser sinceros: se não falarmos de árbitros, falamos do quê? De picuinhices sem nexo como a finta do Aimar no Restelo, ou aquela jogada em que o Cissokho passa por 4 adversários? Por amor de Deus, fintas dessas vejo eu na rua. O que eu não vejo na rua são tipos com roupa retrorreflectora, de apito na boca a distribuir cartões. Excepto em Sesimbra, na noite do Carnaval.
Admitamos: aquele indivíduo sinistro com um vício compulsivo pelo furto de pontos alheios não é apenas um árbitro: aquilo é um pirilampo-polícia-de-trânsito-vendedor-de-casas. E isso, cá para nós, é do caraças.
Além do mais, falar de jogadores da bola é, com todo o respeito, coisa de abichanados. Passar 90 minutos a admirar tipos musculados a correr e a suar é coisa que não dignifica a masculinidade de um Zé Castelo Branco, quanto mais de um homem.
Ora se há coisa da qual o português não tem culpa, é de ser macho e falar como macho. Já alguém ouviu dois espanhóis num café a falar de um Barcelona-Real Madrid?! “Mira, hombre, tu viste o golo do Messi ontem? Ele esquiva-se tão bem pelo meio dos defesas!” “É verdade, ele tem o centro de gravidade baixo e um corpo muito esguio”. Rabetice.
Ponham lá antes dois portugueses a falar num Benfica-Sporting…“Ouve lá, pá, tu viste aquele fora-de-jogo que aquele filho da p*** do fiscal marcou, pá? F***-se!” “Eh pá, deixa lá isso, temos de ser amigos dos árbitros.” “E eu não sou, pá?! E eu não sou?! Olha, fosse eu a mandar e até punha sebo nas pontas das bandeiras só para não lhes arranhar tanto o cú!”
E isto admitindo que estamos a ver um Benfica-Sporting em escolinhas.
Moral da história: O português fala de árbitros porque é coisa de MACHO. Mandar bocas ao Bruno Paixão está para o adepto como dormir com estrangeiras está para o Zezé Camarinha: Quem não faz é gay. Falar sobre árbitros é coisa para um bigode à Dias Ferreira, para uma barriga à Manuel Serrão, para uma carapinha à Rui Santos.
No dia em que for para falar de bola, façam o “Dia Seguinte” com o Cláudio Ramos e o Nuno Eiró.
E agora fiquem bem, que eu vou ver a primeira parte do Porto-Leixões com olhos de macho, mandar umas bocas valentes à macho, e no intervalo a ver se ponho as duas máquinas de roupa branca a estender e engomo os lençóis de flanela.
1 comentário:
Oh meu deus! Eu estou a adorar caa vez mais os vossos sketches!
Tuga que é tuga é macho até à ponta dos cabelos, a lavar e passar lençolinhos de flanela e tal... e pronto.
Tenho a dizer que se não estivesse numa biblioteca tinha-me rido às gargalhadas que nem uma desvairada... mas... meeeenos, muito menos. LOL.
Continuem!
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