quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Já não se fazem cadernetas como antigamente

Ontem ao passar numa papelaria avistei uma simpática caderneta de futebol e veio-me aquele espírito meio paternal meio saudosista, que é como quem diz "Ter filhos é uma desculpa do caraças para voltar a ser puto".
Vai daí comprei a caderneta “Futebol 2009-10”, um livrinho onde posso colocar cromos dos viris jogadores da nossa Liga Sagres, bem por cima dos perfis mais abichanadamente assustadores que já vi na minha vida.


Explicando: em baixo de cada cromo há um texto que definiria o perfil do jogador estampado no autocolante. E digo “definiria” se eventualmente o perfil tivesse sido escrito por Gabriel Alves, o único agente do futebol com capacidade de inventar suficientes neologismos para adjectivar mais de 300 jogadores sem nunca se repetir.
O problema é que Gabriel Alves porventura levará um cachet muito elevado. Só assim se explica que se tenha optado por uma guionista de telenovela erótica brasileira.



Mas vamos por partes: por motivos profundamente racionais, nomeadamente a crendice começo logo por ir ver jogadores do Benfica. Debruço-me sobre a estrela Saviola. Não porque goste mais dele do que dos outros, mas se é para me debruçar sobre alguém que seja sobre um gajo com um metro e meio, que assim não tenho de me empoleirar e não me doem as costas.

Ora há tantos adjectivos que definem um jogador de futebol: “Tecnicista”, “virtuoso”, “driblador nato”, “goleador”, “matador”. Era mesmo preciso definir Saviola como “inebriante, fogoso e com uma cartola cheia de requebros”?!

Olhei para a capa para ver se a senhora não me teria enganado e vendido a "Maria". Não, era mesmo um livro de futebol. Tive azar, só pode. Deixa-me cá ir ao Keirrison ver o que dizem do puto:
"Pés de veludo e sedosos que ordenam a bola beijar a rede".
Estou feito. Se o meu filho lê isto vai pensar que o "K11" é diminutivo de "Ken quando a Barbie sai com o homem do talho".

Com medo que fosse alguma perseguição ao Benfica decidi escolher ao acaso outros clubes. Ora qual foi o último clube que o Benfica cilindrou? Exacto, Leixões.
Bom, pai que veja o cromo 95 fica boquiaberto. Pois com que moral se explica a uma criança que Hugo Morais “na esgalha, desbrava o meio-campo do lado esquerdo”, sabendo que ela naturalmente vai perguntar “Oh pai, o que é esgalhar?”


Saltei para outro lado. A quem é que o Benfica ganhou antes do… exacto. Leiria.

E é em Leira que encontro Pedro Cervantes, “o raminho a que se agarra a equipa quando algo não funciona”...
É que nem me vou dar ao trabalho de fazer uma piada com isto.

Abismado com tal estapafurdismo, continuo pela equipa do Leiria e dou de caras com Pateiro, “Cozinheiro de iguarias com veemente sabor a golo”. Desculpem?!

Por esta ordem de ideias, será Javi Garcia um “varredor de meio-campo com veemente cheirinho a alfazema”?

Com o coração benfiquista já apertado, volto à minha equipa e corro a ver-lhe a definição. Ufa… afinal Javi apenas “Tem estampa, sabe o que faz e é intrépido”. Podia ser "corajoso", podia ser "audaz". Mas isso é para meninos. Javi Garcia é "intrépido".
Isto sim, é uma daquelas definições que fazem um puto de 4 anos idolatrar um jogador e dizer “Papá! Papá! Quando for grande quero ser intrépido. Ou isso ou otorrinolaringologista.”

Sabendo nesta altura a 100% que estava de facto a ler uma publicação sobre futebol, sobrava-me apenas uma dúvida: era uma caderneta de cromos ou a secção de classificados do “Record”? Decidi ler mais uns, só para tirar as teimas:

“Requintado, a dar nós cegos e com vontade de seduzir”.
Hum… será o anúncio de Jairson, o sadomasoquista brasileiro da Buraca?
Não. É o cromo de Matias Fernandez, o tecnicista chileno de Alvalade.

Já que estava no Sporting, dei uma espreitadela pelo resto da equipa e fiquei a saber que Tonel é "pegajoso" e que Carriço “respira no pescoço dos avançados”. Ou seja, basicamente a equipa do Sporting é definida de forma claramente mariquinhas.
Também não se podiam enganar sempre.

Concluindo: caros amigos, a caderneta em causa é de boa qualidade e a compra e colagem daqueles pequenos e mágicos autocolantes providencia momentos pai-filho em que se junta passado e presente na mesma paixão, como quando jogamos a dois na Playstation ou vemos em conjunto a FHM.
Porém,por uma questão de coerência faço uma proposta aos criadores do livrinho de cromos, a editora Panini e ao escritor dos perfis, que a ser um homem é possível que também seja um bocadinho panini: mudem os adjectivos para linguagem futebolística.
Ou então mudem o nome da caderneta de “Futebol 2009-10” para “Futeboiola 2009-10”.


CA

3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o seu comentário e gostei do texto,

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Compro os cromos desta colecção para oferecer aos meus netos.
Quando um deles me veio dizer que tinha conseguido reunir as seis letras da palavra ADEPTO e pedir que fosse buscar a bola que no verso dos cromos é afirmado ser oferecida deparei-me com o seguinte problema: no local onde os compro ( Hiper's Modelos )dizem-me que não é nada com eles. Só se encarregam das vendas. Isso será com os quiosques...
Os quiosques dizem que não sendo cliente não têm nada que dar a bola. Alguns até afirmam o contrário, isso é com os Hiper's.
Em quer ficamos? Alguém me pode dar uma dica? Ou será tudo um marketing inconsequente?!

CGA disse...

Nem sabia que se vendia nos Hipers. Boa, que nas papelarias onde compro sai-me tudo repetido.
Já tenho mais cromos do Falcão que da equipa do Nacional toda junta.

Quanto à bola, tem de colocar as películas com as letras num envelope e enviar para a PANINI (as instruções vêm na caderneta, pág. 38 acho).

Agora o que não lhe garanto é que seja marketing consequente, que eu já mandei as letras há umas semanas e ainda não recebi bola nenhuma.

Além disso são daquelas promoções para os "1000 primeiros" o que dá sempre para nos dizerem "Eh pá você merecia MESMO ganhar! Pena é que foi o milésimo primeiro..."